A Guiné-Bissau, com sua história de lutas pela independência e sua rica diversidade cultural, enfrenta hoje um dilema inquietante: a convivência entre uma liderança militar e política que lança ameaças e o conformismo de uma população que, aparentemente, se resignou à inércia. Essa realidade é marcada pelo crescente autoritarismo, pela instabilidade institucional e por um silêncio desconfortável das massas. Em um contexto em que tanto o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas quanto o presidente da República protagonizam uma série de conflitos e ameaças, a ausência de uma resposta popular robusta aponta para uma situação preocupante de apatia e desgaste da esperança.
Desde sua independência, a Guiné-Bissau experimentou uma sucessão de golpes de Estado, crises políticas e governos de curta duração. No entanto, parece que o país alcançou um novo estágio de normalização da instabilidade. Quando figuras de poder fazem declarações que instigam o medo, que ameaçam a oposição ou a sociedade civil, a resposta popular tem sido de conformidade, ao invés de resistência. O conformismo parece ter se instalado como uma forma de sobrevivência, uma aceitação velada de que a realidade atual é imutável.
Essa passividade, contudo, tem raízes profundas. A população guineense já enfrentou décadas de frustrações, promessas não cumpridas e precariedade social. A esperança por uma mudança genuína na esfera política foi, aos poucos, sendo substituída por uma aceitação tácita do status quo. Além disso, o envolvimento direto das forças armadas na política criou um ambiente onde o medo e o silêncio tornaram-se as reações dominantes. Afinal, como exigir mudanças diante de ameaças explícitas de figuras militares e políticas que controlam os meios de coerção?
Por outro lado, a falta de reação popular também deve ser entendida à luz da realidade social e econômica do país. A maioria da população vive em condições de extrema dificuldade, lutando diariamente para garantir o básico para a sobrevivência. Nesse cenário, os assuntos de Estado e os conflitos entre as elites políticas e militares parecem distantes das preocupações imediatas dos cidadãos comuns. A prioridade é a sobrevivência, e a pressão econômica sufoca qualquer possibilidade de mobilização efetiva.
Entretanto, o conformismo tem um preço alto. A ausência de resistência popular fortalece a posição daqueles que ocupam o poder e lhes dá uma sensação de impunidade. Quando o povo se cala diante das ameaças, as lideranças se sentem livres para continuar agindo em benefício próprio, sem medo de represálias. Esse ciclo, que se retroalimenta, gera um ambiente onde os interesses da nação ficam sempre em segundo plano, enquanto as elites dominantes perpetuam sua influência.
É preciso, portanto, refletir sobre o papel da sociedade civil na construção de uma Guiné-Bissau mais justa e democrática. A passividade e o conformismo não podem ser a resposta. Organizações civis, estudantes, intelectuais e cidadãos em geral precisam questionar, resistir e buscar alternativas para que o país não permaneça refém de um sistema político-militar autoritário. A história mostra que, quando o povo se une em prol de uma causa, mesmo regimes aparentemente inabaláveis podem ruir.
A Guiné-Bissau tem potencial para romper com esse ciclo vicioso. Para isso, é necessário um despertar coletivo, uma conscientização de que as mudanças só serão possíveis se houver uma pressão popular consistente. É fundamental que o cidadão comum compreenda que o futuro do país depende de sua voz, de sua ação, de sua capacidade de dizer não ao abuso de poder. Afinal, sem a participação ativa do povo, não há democracia que prospere, e a Guiné-Bissau continuará presa ao ciclo de ameaças e autoritarismo, enquanto as promessas de liberdade e justiça permanecem apenas como ideais distantes.
“Nha terra kana fika na bo mon”!
Por: Malam faty