Esta questรฃo tem-nos interpelado ao longo dos รบltimos quatro anos. Nรฃo รฉ porque รฉ inconstitucional. Nรฃo. ร, sim, constitucional. Atรฉ porque a nossa Constituiรงรฃo da Repรบblica particularizou o assunto com um articulado bem preciso: โO Presidente da Repรบblica preside o Conselho de Ministros quando entenderโ. Este โquando entenderโ, na nossa leitura, nรฃo quis o legislador dar ao Chefe de Estado o beneplรกcito absoluto de gerir o Governo, atravรฉs da presidรชncia de todas as reuniรตes do Conselho de Ministros, acreditando, claro, o legislador, na maturidade e racionalidade polรญtica de um Presidente da Repรบblica para โnรฃo entenderโ que deve presidir todas as reuniรตes do Conselho de Ministros, mesmo nรฃo havendo situaรงรตes extraordinariamente requeridas.
Mas, porque รฉ que um Presidente da Repรบblica nรฃo deve presidir todas as reuniรตes do Conselho de Ministros? Bom. Esta รฉ a questรฃo. Sim. Esta รฉ a questรฃo, partindo do princรญpio que o Governo รฉ, politicamente, responsรกvel perante o Parlamento, do qual รฉ emanado, e perante o prรณprio Presidente da Repรบblica. Se assim รฉ constitucional, quando um Presidente da Repรบblica passa a presidir todas as reuniรตes do Conselho de Ministros torna-se responsรกvel directa de todas as decisรตes negativas ou positivas daรญ decorrentes. De bรกsica nomeaรงรฃo de um Director-geral, passando por uma simples decisรฃo polรญtica sobre a gestรฃo de lixos. O outro contrรกrio, ou nota adicional, รฉ o facto do Primeiro-ministro despachar-se semanalmente com o Presidente da Repรบblica sobre assuntos correntes de governaรงรฃo. Isto รฉ da Constituiรงรฃo. Ora, se o legislador julgasse que รญamos ter um Presidente da Repรบblica que estaria a presidir todas as reuniรตes do Conselho de Ministros, rogando ร disposiรงรฃo โquando entenderโ, รฉ evidente que dispensaria o despacho semanal do Chefe do Governo perante o Chefe de Estado, jรก que todas as semanas partilham a mesma sala para discutir os assuntos de governaรงรฃo. Ademais, ao presidir todas as reuniรตes do Conselho de Ministros, รฉ do nosso entendimento que o Presidente da Repรบblica passa, na prรกtica, a ser politicamente responsรกvel perante o Parlamento, porquanto a Assembleia Nacional Popular [Parlamento], de acordo com o nosso sistema, รฉ o รณrgรฃo [da soberania] competente para a fiscalizaรงรฃo da atuaรงรฃo do Governo, o que, de certa forma, alรฉm de subjugar o papel constitucional do Presidente de Repรบblica, violenta o nosso sistema polรญtico, o SEMIPRESIDENCIALISMO. Face a actual dinรขmica de governaรงรฃo directa, assumida pelo Presidente da Repรบblica, suponhamos o Governo deparar-se com questรตes politicamente embaraรงosas, que o opรตe ao Parlamento e aos demais outros รณrgรฃos da soberania, para que lado penderรก o Presidente da Repรบblica? Claro que seria do lado do Governo, envolvendo-se, assim, nas querelas polรญticas, pois, รฉ ele, de facto, o Chefe do Governo, tanto mais que todas as decisรตes por este [Governo] tomadas, em Conselho de Ministros, sรฃo da sua responsabilidade directa. Ou seja, pode e deve o Presidente da Repรบblica responder perante aos deputados e a plenรกria da Assembleia Nacional Popular relativamente ร s questรตes ligadas ร governaรงรฃo. Sim, pode e deve. Porรฉm, nas circunstanciais actuais nรฃo hรก como, pois o Parlamento estรก dissolvido. E, se nรฃo fosse…Se nรฃo fosse, o Presidente da Repรบblica tornaria vulnerรกvel perante a Assembleia Nacional Popular e politicamente responsรกvel por todos os actos do Governo e dos seus titulares, nomeadamente, de simples ร grandes actos de corrupรงรฃo, atรฉ na omissรฃo ou nรฃo sobre os crimes pรบblicos, passando pelo pagamento de salรกrios ou despesas inerentes ao funcionamento dos departamentos ministeriais. E, em consequรชncia, o Presidente da Repรบblica perde a imagem de reserva, figurada propositadamente na Constituiรงรฃo da Repรบblica.
Por isso, e para estar acima de altercaรงรตes polรญticas ou institucionais, defendemos que deve, o Presidente da Repรบblica, reservar-se ao papel de conciliador e garante do normal funcionamento das instituiรงรตes, presidindo as reuniรตes do Conselho de Ministros apenas em situaรงรตes que requerem uma abordagem cuidadosa e estratรฉgica em relaรงรฃo a gestรฃo do paรญs, mesmo que a Constituiรงรฃo lhe der o poder de presidir as reuniรตes do Conselho de Ministros โquando entenderโ.
๐.๐. ๐พ๐๐จ๐ค ๐ง๐๐๐๐ฃ๐ฉ๐ ๐ฬ ๐จ๐ค๐๐ง๐ ๐๐ก๐๐๐ฬง๐คฬ๐๐จ. ๐๐ฬ๐ค ๐๐ฬ ๐๐ค๐ข๐ค ๐๐จ๐๐ฃ๐ฉ๐๐ง ๐ค ๐๐๐ฉ๐ช๐๐ก ๐๐ง๐๐จ๐๐๐๐ฃ๐ฉ๐ ๐๐ ๐๐๐ฅ๐ชฬ๐๐ก๐๐๐ ๐จ๐ค๐๐ง๐ ๐ค ๐๐๐๐๐ข๐๐ฃ๐ฉ๐ค ๐๐๐จ ๐ข๐๐จ๐ข๐๐จ, ๐๐ฃ๐๐๐ฅ๐๐ฃ๐๐๐ฃ๐ฉ๐๐ข๐๐ฃ๐ฉ๐ ๐๐ ๐จ๐๐ง ๐ช๐ข ๐๐ค๐ซ๐๐ง๐ฃ๐ค ๐๐ โ๐๐ฃ๐๐๐๐๐ฉ๐๐ซ๐ ๐๐ง๐๐จ๐๐๐๐ฃ๐๐๐๐กโ, ๐ฬ ๐๐ก๐ ๐ฆ๐ช๐๐ข ๐ฅ๐ง๐๐จ๐๐๐ ๐๐จ ๐ง๐๐ช๐ฃ๐๐คฬ๐๐จ ๐๐ค ๐พ๐ค๐ฃ๐จ๐๐ก๐๐ค ๐๐ ๐๐๐ฃ๐๐จ๐ฉ๐ง๐ค๐จ, ๐ค๐ฃ๐๐ ๐๐ค๐ง๐๐ข/๐จ๐ฬ๐ค ๐๐๐จ๐๐ช๐ฉ๐๐๐ค๐จ ๐๐จ๐จ๐จ๐ช๐ฃ๐ฉ๐ค๐จ ๐ก๐๐๐๐๐ค๐จ ๐๐ค ๐ฅ๐ง๐ค๐๐๐จ๐จ๐ค ๐๐ก๐๐๐ฉ๐ค๐ง๐๐ก.
Bissau, 07 de outubro de 2024.
Lassana cassama