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“EDUCAÇÃO E SAÚDE: uma prioridade de boca para fora”

 

Todos os políticos da Guiné-Bissau dizem sempre nas campanhas eleitorais que a Educação e Saúde são prioritárias; contudo, infelizmente, isso nunca chegou a ser uma realidade.
O último comunicado do Conselho de Ministros do atual governo de iniciativa presidencial, liderado pelo Eng° Rui Duarte Barros, demonstrou mais uma vez o nível de insensibilidade que os governantes da Guiné-Bissau têm para com os problemas que afetam estes dois setores-chave. O coletivo governamental teve a ousadia de fazer constar em um dos pontos do seu comunicado que deu instruções ao Ministro das Finanças para não fazer qualquer despesa que não esteja prevista no Orçamento Geral do Estado.
Esta medida perigosa é tomada em um momento em que:
1- Os docentes contratados das escolas de formação de professores retiveram as respectivas fichas de avaliação como forma de exigir do governo o pagamento de dois anos de salários dos seus contratos;
2- Os professores novos ingressos exigem do governo o pagamento de salários de quase todos os meses do ano letivo findo;
4- Mais de 500 técnicos de saúde recrutados na era do então Ministro da Saúde Dr. Domingos Malú para preenchimento das vagas não receberam sequer 25 Fcfa dos 8 ou 9 meses de salário em atraso, isto é, desde que iniciaram os trabalhos nos hospitais até a data presente;
5- A Frente Social decreta Greve Geral da Saúde para exigir do governo, entre outros pontos, o pagamento de salários aos novos ingressos da educação e saúde, a efetivação, a reclassificação e a melhoria das condições de trabalho.
A Guiné-Bissau é um caso excepcional no mundo, pois só aqui é possível ouvir as informações que dão conta de que Ministros da Educação e Saúde autorizaram o recrutamento de técnicos e estes trabalharam durante vários meses, tendo chegado o momento de receberem os seus salários, e não podiam, pois o Ministro das Finanças afirma que desconhece destes processos de recrutamentos. Atos desse tipo só podem ser justificados pelo alto nível de desfuncionalidade do Estado. É inacreditável pensar que algo desse gênero possa acontecer em pleno século XXI, com a facilidade de comunicação que temos hoje, considerando que todos esses Ministérios se encontram no centro da capital, e que ainda esses Ministros se cruzam pelo menos uma vez por semana na reunião do Conselho de Ministros!
De salientar que esta vergonhosa decisão foi tomada uma semana após o governo ter recebido uma missão de avaliação do FMI. Ao que tudo indica, a medida em causa foi tomada mais uma vez com o objetivo de cumprir as orientações deste famoso organismo internacional (FMI), que, infelizmente, determina até o tipo de “PANU DI LIMPA TCHON” que o governo da Guiné-Bissau deve comprar.
Na vigência desta vergonhosa decisão do Conselho de Ministros:
– Quem tem a ousadia de convidar os professores novos ingressos que deram aulas durante o ano letivo findo, 2023/2024, e não receberam nem sequer um mês de salário, para regressarem às salas de aula?
– Quem atreveria a pedir fichas de avaliação aos professores das escolas de formação que foram enganados no ano letivo 2022/2023?
– Com que argumento se pode convencer os técnicos novos ingressos de saúde que não estão a receber os seus salários a continuarem a labutar nos hospitais para salvar vidas?
Como alguém pode ter a ousadia de afirmar que Saúde e Educação são suas prioridades, se na época chuvosa, em que as doenças diarreicas agudas e o paludismo são frequentes, e os técnicos que cuidam dos pacientes só têm o dever de trabalhar, mas não têm o direito de receber seus salários? Se o governo que declarou a abertura do ano letivo, não está interessado em liquidar as dívidas contraídas com os professores?
Há sempre uma falsa questão em que as pessoas tentam manipular a consciência dos técnicos de saúde com afirmação de que eles “juraram salvar vidas”, portanto, têm que fazê-lo de qualquer jeito. Eu sempre digo: durante meus anos de estudo de medicina até a data presente, exercendo como médico, não li um único livro de medicina que aconselhe os técnicos de saúde a se suicidarem primeiro para poder salvar a vida de seus pacientes.
Eu não canso de dizer que o fato de os técnicos de saúde usarem batas, luvas, máscaras e outros meios de proteção é sinal de que primeiro aprendemos que temos que cuidar de nós mesmos para depois estarmos em condições de salvar outras vidas.
Para mim, o estado da Guiné-Bissau é um dos maiores corruptores que existem no mundo, pois manter um funcionário a trabalhar por vários meses sem qualquer tipo de remuneração e depois exigí-lo a prestar serviços de qualidade é incentivá-lo a entrar na corrupção a fim de poder suportar as suas necessidades básicas.
Mediante essa falta de compromisso da classe política guineense para com os problemas que afetam os setores da Educação e a Saúde, é chegado o momento de os professores e os técnicos da saúde colocarem de lado as suas diferenças sociais e unirem-se à volta da FRENTE SOCIAL com vista a lutarem destemidamente pela dignificação das suas classes.
“NÓ DIPLOMAS, MAS BARI PADJA”
Bissau, 08 de outubro de 2024
Por: Dencio Florentino Ié
(Mendeleev)
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